Clandestinos
«O poesia tu più non tornerai»
Dino Campana
Clandestinos serão sempre os anjos de Iahwé
Enchem os primeiros autocarros para o centro
lêem o jornal de distribuição gratuita
à espera que de novo o mar se rasgue
num quarto sub-alugado da periferia
onde em vez de Corte Inglês e Continente os supermercados
se chamam Lidl ou Discount
É fácil detectar seu rosto transparente
pois pertence-lhes a solidão como um zumbido
imerso, inactual, impreciso
semelhante ao dos bosques vedados onde já não se colhe
as castanhas, a lenha morta
Nas grandes praças da Europa por onde quer que se vá
o mesmo rosto detrás dos vidros policiais
uma espécie de fantasma
José Tolentino Mendonça, A Estrada Branca, 2005.
«O poesia tu più non tornerai»
Dino Campana
Clandestinos serão sempre os anjos de Iahwé
Enchem os primeiros autocarros para o centro
lêem o jornal de distribuição gratuita
à espera que de novo o mar se rasgue
num quarto sub-alugado da periferia
onde em vez de Corte Inglês e Continente os supermercados
se chamam Lidl ou Discount
É fácil detectar seu rosto transparente
pois pertence-lhes a solidão como um zumbido
imerso, inactual, impreciso
semelhante ao dos bosques vedados onde já não se colhe
as castanhas, a lenha morta
Nas grandes praças da Europa por onde quer que se vá
o mesmo rosto detrás dos vidros policiais
uma espécie de fantasma
José Tolentino Mendonça, A Estrada Branca, 2005.