terça-feira, 26 de maio de 2009

des-loc-arte (1)

é muito importante por vezes
sentirmos, num dado tempo e lugar,
que já não há ninguém que queira
falar connosco.

as ruas e os parques
os cafés e as livrarias
ficam assim disponíveis
para os ruídos que despontam
quando os outros se afastam.

há pássaros que cruzam
com o seu silvo
a nossa solidão azul escura,
o entramado dos troncos
nus e recortados.

o espaço do mundo abre-se
como uma imensa paisagem
onde há lugar para o som
do nosso coração,
dos nossos passos,
do próprio movimento
dos olhos estupefactos.

sentamo-nos numa terra estrangeira,
vemos o ir e o vir das famílias,
sentimos uma estranha ternura
pela humanidade e seus ritmos.

não estamos perdidos, nem achados.
pousámos simplesmente no mundo,
e as nuvens podem passar sobre nós
com uma leveza etérea.

Vítor Oliveira Jorge

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Livros sobre viagens














A editora Tinta-da-China começou a publicar no ano passado uma colecção de livros sobre viagens, editada por Carlos Vaz Marques.
Trata-se de livros de viagens que nada têm a ver com guias. São passagens por diferentes terras, transpostas para palavras, imagens, metáforas. Cada autor preocupa-se apenas com o seu estar ali, com a sua relação com um espaço que não é o seu, mas que o vai sendo aos poucos, numa apropriação do outro e, assim, transformando-se através dessa experiência do diferente.
É uma série muito cuidada, a não perder nenhum volume.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Notas de viagem (6)

Lire, c'est voyager; voyager c'est lire.
Victor Hugo

Notas de viagem (5)

A primeira obrigação de um viajante bem educado, ao regressar de algum país sublunar, é conversar em modo que se lhe não perceba nem o intuito mais remoto de querer leccionar alguma coisa a quem o ouve ou a quem o lê.
Ramalho Ortigão (1868)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Notas de viagem (4)




2.
E é isso que tu sabes e tanto sentes: o importante não é chegar, é ir. Ir indo. E partir - sempre partir, sem chegar. A viagem é tudo, ir, ir, ir - perder tudo - deixar, sem vestígio, o percurso para trás percorrido, como as aves que navegam o céu vermelho do anoitecer - como fogos-de-artificio que irrompem e explodem duma só completa vez, e terminam - relâmpagos dum só esplendor, logo no vento para sempre perdidos.
Miguel Gullander
A balada do marinheiro-de-estrada

Notas de viagem (3)

1.
Para nos fazermos à estrada é necessário OBSERVAR atentamente. É a vida que stá em jogo - num lance de moeda-ao-ar. Joaga-se para perder. Para perder tudo.
É necessário observar atenta e plenamente cada pequeno detalhe da vida. Então a estrada terá outro sabor.


Miguel Gullander
A balada do marinheiro-de-estrada.

quarta-feira, 13 de maio de 2009


Numa época em que todos podemos estar a qualquer momento em qualquer parte do mundo sem, efectivamente, haver uma deslocação física, o Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, em parceria com o Clube Literário do Porto, convida-o a participar no ciclo de "Conversas sobre viagens e outras deslocações" .

Neste ciclo contaremos com a presença de viajantes, ensaístas e críticos, de modo a que possamos dialogar sobre a viagem/deslocação efectiva e a escrita de viagem.

As conversas iniciam já dia 22 de Maio no Auditório do CLP. Na sessão de abertura estará presente o escritor Miguel Gullander.

domingo, 3 de maio de 2009

Notas de viagem (2)

Um relato de uma viagem é um relato fiel dessa viagem. Não se inventa. É um documentário. A ficção está cheia de invenção, de imaginação, fantasia. com o livro de viagens, quando nos sentamos para o escrever, sabemos como vai acabar.
Paul Theroux

Notas de viagem (1)

Pour moi, voyager, c'est gagner par déracinement, disponibilité, exposition, le centre de ce champ de forces qui s'étend d'ailleurs partout mais dont il faut que nous cherchions, par déplacement géographiques ou mental, l'accès que nous y est particulièrement réservé. Il y a bien d'autres Sésames: l'alccol, l'éros, l'opium, la méditation immobile. Pour moi, comme pour la nombreuse famille dont je suis tributaire et dont je descends, c'est l'état nomade qui m'a fourni une clé: grand voyage ou petit voyage, Chine Central ou Suisse orientale, le voyage n'étant pas affaire de kilomètres mais d'état d'esprit. Une fois gagné ce point central, reste à racinter avec les moyens du bord ce qui s'y passe, ou plutôt, le peu qu'on en aura compris.
Nicolas Bouvier