é muito importante por vezes
sentirmos, num dado tempo e lugar,
que já não há ninguém que queira
falar connosco.
as ruas e os parques
os cafés e as livrarias
ficam assim disponíveis
para os ruídos que despontam
quando os outros se afastam.
há pássaros que cruzam
com o seu silvo
a nossa solidão azul escura,
o entramado dos troncos
nus e recortados.
o espaço do mundo abre-se
como uma imensa paisagem
onde há lugar para o som
do nosso coração,
dos nossos passos,
do próprio movimento
dos olhos estupefactos.
sentamo-nos numa terra estrangeira,
vemos o ir e o vir das famílias,
sentimos uma estranha ternura
pela humanidade e seus ritmos.
não estamos perdidos, nem achados.
pousámos simplesmente no mundo,
e as nuvens podem passar sobre nós
com uma leveza etérea.
Vítor Oliveira Jorge
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