terça-feira, 26 de maio de 2009

des-loc-arte (1)

é muito importante por vezes
sentirmos, num dado tempo e lugar,
que já não há ninguém que queira
falar connosco.

as ruas e os parques
os cafés e as livrarias
ficam assim disponíveis
para os ruídos que despontam
quando os outros se afastam.

há pássaros que cruzam
com o seu silvo
a nossa solidão azul escura,
o entramado dos troncos
nus e recortados.

o espaço do mundo abre-se
como uma imensa paisagem
onde há lugar para o som
do nosso coração,
dos nossos passos,
do próprio movimento
dos olhos estupefactos.

sentamo-nos numa terra estrangeira,
vemos o ir e o vir das famílias,
sentimos uma estranha ternura
pela humanidade e seus ritmos.

não estamos perdidos, nem achados.
pousámos simplesmente no mundo,
e as nuvens podem passar sobre nós
com uma leveza etérea.

Vítor Oliveira Jorge

Sem comentários:

Enviar um comentário